Como uma gota de tinta em papel branco, a África foi deixando suas marcas pelo mundo. O êxodo faz parte não da cultura, mas da necessidade de povos que sofrem o desastre da globalização.
Primeiro alguns foram retirados de suas terras, em uma imigração forçada. Pedaços africanos amputados foram espalhados pelos países colonizadores. A fácil identificação através da cor da pele, fez com que a marginalização não estivesse necessariamente associada à essência pobre ou cruel, mas sim ao que estava ao alcance dos olhos. A pele negra sempre esteve aliada ao sujo, desprezível, baixo, ignorante, repugnante, primitivo. Todos adjetivos que foram se perpetuando pelo imaginário coletivo. Segundo Goebbels uma verdade tantas vezes contada, acaba virando verdade. E aí se reforçou o instinto racista.
Em uma Europa multifacetada vemos a marca africana impregnada em cada canto. Negros franceses, ingleses, holandeses, de todas as nacionalidades. Há também os africanos marroquinos, argelinos, que são de identificação mais complicada. Essa invasão assusta o continente. Temem perder a identidade européia, querem manter a pureza de Hitler.
O que dizer de uma França que recebe por ano um número três vezes maior de imigrantes do que de nascimentos em seu território? O presidente Sarkozy(de origem húngara) quer expulsar do país o maior número de estrangeiros ilegais possível. Talvez não saiba que esses árabes, africanos, asiáticos ou até mesmo do leste europeu, são parte fundamental da mão-de-obra francesa. Um dia sem esses imigrantes levaria o país à bancarrota.
Só que o problema é muito mais profundo. Assim como estamos acostumados no Rio de Janeiro, as abordagens policiais na caça aos ilegais(Sans Papiers) são feitas através da identificação visual. Isto é, negros em sua maioria, são os escolhidos para passarem pela inspeção policial atrás de documentos que provem ou não a ilegalidade destas pessoas. Onde está a igualdade, a fraternidade, a liberdade?
Os europeus tornaram a África um local muito difícil para se viver, e hoje, que os negros por necessidade, tem de sair de seus países em busca de algo melhor, não encontram nos seus algozes algum alento. Porém esta invasão ao contrário se tornou irreversível. A Europa pintou em sangue a África. E agora em negro, os africanos vão espalhando sua cor, sua identidade, sua vida.
Em busca da liberdade prometida, esses negros vão vivendo então, presos nos guetos e subúrbios do primeiro mundo. São eles os pedreiros, faxineiros, seguranças, prostitutas... Humanos, porém marginais. Lembrados no esporte, na música, dificilmente na literatura, pois se a eles lhes for concedido o poder da palavra, transbordarão rios de prantos e verdades que o mundo não está preparado para receber. O silêncio dos africanos é como uma mina terrestre à espera de sua vítima. Possui um poder devastador, só precisa ser acionada.
O pensamento e o direito à palavra salvarão os homens marginalizados do desastre da segregação. Por alguns instantes podem fechar os olhos para não ver, porém, hoje, o mundo é recheado de África. Cada ponto escuro ao nosso redor significa luz. A luz da alma negra.
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